O açude seco

Pensar no sertão
em coisa chique até dá,
mas axila bela aqui

só se for axila noîre:
sóhá, ó gente, ó sim,
axilas belas no sertão!

a gente sua, gente vai,
a gente canta, nossa voz
chega entortar

agreste axilar!
axilas são os açudes
sob sol de arrebentar;

onde o pelo cresce
ralo e a gente não tem
grana pra aparar

e onde semeie-se
perfume pro sabiá
ou o uirapuru cantar,

porque no côncavo
do açude das axilas
dessas moças,

há o perfume
da caatinga, bem
melhor que a catinga

que nos de outras
moças há, não há ó gente
ó não, axila noîre

neste sertão, que
nos bendiga bonsoir
e que no ar seja

no ar, não há noîre,
porque a gente já tem
muita tristeza

para arrebentar,
no ar, noîre, tanta tristeza
para arrebentar.

noîre, il n'y a pas
en France tant de
tristesse, bien

qu'il y ait là
au nord-est, não há
lá no nordeste

brasileiro, axila
noîre, que feda tanto como
as axilas francesas,

E se açude seco
tem fundo quebradiço,
o cheiro é bom!
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 09/04/2017
Reeditado em 18/06/2020
Código do texto: T5966263
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