MAMÃE, NÃO QUERO CRESCER

Leleco era um garotinho de apenas sete anos de idade. Gostava de brincar... correr, subir em árvores, esconder-se. Enfim, fazia tudo o que as crianças fazem. Mas, ao término de cada brincadeira, ele não demonstrava satisfação no que acabara de fazer; seu olhar era triste e vazio.

Quando Leleco perguntava a sua mãe o porquê de não poder fazer o que os adultos fazem, as respostas eram sempre as mesmas:

– “Filho, tenha calma! Tudo tem a sua hora”

Como é do conhecimento das pessoas, toda criança tem a sua fada-madrinha. Até mesmo nesse sentido, Leleco não era diferente; também tinha a sua fada-madrinha que sempre aparecia nos seus momentos de tristezas.

Estava o garotinho, numa tarde, sob uma árvore, triste a chorar, quando ela lhe apareceu. Passou um lencinho de seda no rostinho do Leleco a fim de enxugar as lágrimas que escorriam, e fingindo não saber o que acontecia, perguntou-lhe:

– O quê há contigo, meu amiguinho?

– Nem mesmo você irá me entender, fada-madrinha! Eu quero fazer tudo que os adultos fazem; quero trabalhar, namorar, casar, ter muitos filhos...

Ouvindo aquele lamento, sem nada dizer, a fada tocou levemente a Varinha de Condão na cabecinha do Leleco que continuava falando.

– ... Fumar, beber...

Quando deu por si, Leleco percebeu que estava falando sozinho.

– Ué!... Com quem eu estava falando?!

E naquele mesmo instante, lembrou-se que tinha esposa e dois casais de filhos e também, um patrão que não o suportava, mas pela necessidade, teria que aturá-lo.

– Meu Deus, estou atrasado outra vez!–disse Leleco enquanto corria a fim de pegar o primeiro ônibus para chegar ao trabalho.

Já dentro do coletivo, para descontrair-se, retirou do bolso da velha, surrada e desbotada calça um cigarro.

Assim que o acendeu, começou a tossir e lembrou-se: "cigarro faz mal à saúde” advertira o médico. Tratou de apagá-lo em seguida.

Ao descer do ônibus, quase pisou a cabeça de um bêbado que estava deitado na sarjeta.

Chegando ao trabalho, soube que, a empresa em que trabalhava iria demitir funcionários, e, para a sua surpresa, um nome estampado na lista dos futuros demitidos era, nada mais, nada menos que ele; o senhor "Leleco de Las Candongas".

No trajeto para casa, mesmo preocupado, Leleco tentava esquecer a lista dos futuros demitidos. Tentava esquecer todos os seus problemas, embora os mesmos fizessem parte do seu cotidiano, fizessem parte da sua vida.

Chegando em casa, tudo iria melhorar, tudo iria ficar bem; afinal, estaria no seu lar, “doce-lar...”

... Ficar bem?! Engano seu!!!

A esposa entregou-lhe contas atrasadas e por isso, as pagaria com multas. Pouco dinheiro e muitos problemas, a cabeça do nosso querido Leleco começava a esquentar de preocupações. E, enquanto o Leleco estava pensativo tentando encontrar uma solução, as crianças pulavam e gritavam se divertindo sem nada saber, nem ao menos interessava o que se passava na cabeça do papai.

Agora estava o senhor Leleco tendo como companheira permanente, fantasmas, ao invés de fadas.

Enquanto seus filhos pulavam, brincavam e riam, Leleco fitou aqueles rostinhos puros, inocentes que transbordavam de felicidades, e ainda pensativo, ele desejou algo...

"... Ah, como é bom ser criança...!”– pensou Leleco com seus botões. Cansado, cochilou ali mesmo, no sofá .

Leleco, Leleco, acorda meu filho! Vamos para casa, meu anjo! – falou sua mãe.

Leleco, ainda assustado, olhou a sua mãe e após abraçá-la, beijou-a no rosto, ação que não era normal por sua rebeldia, falou:

– Mamãe, eu não quero mais crescer!

– “Calma, meu filho, tudo tem a sua hora!”–RESPONDEU-LHE A MÃE.

Este trabalho está registrado na Biblioteca Nacional-RJ

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 20/12/2006
Código do texto: T323282