DEIXE-ME NASCER...

“Quem sou eu?

Estou aqui neste lugar,

Envolto em água, sei nadar.

Escuto vozes,

Do lado de fora...

Já estou amando!

O som que me embala,

É uma voz doce,

Que me traz emoção.

Já tenho cérebro, olhos e coração.”

“Quem é ela?...

A dona da voz, que já amo.

Está doente, será?

Vai ao médico,

Ouvi ela falar.”

- O que tenho doutor?

- Deite-se ali, que vou examinar.

“Ai que cócegas!

Estão me tocando.

Devagar, está doendo;

Estão me espremendo.”

- A senhora está grávida!

- Grávida doutor???

- Sim, a senhora vai ser mãe, vai ter um bebê.

“Mãe? Bebê?

Sim, ela é minha mãe...

E, eu sou um bebê...”

- Por favor doutor, eu não quero ter este filho. Afinal, sou dona do meu corpo.

- Então, vamos fazer um aborto. Em um segundo você estará livre.

“Aborto?

Do que eles estão falando?...

Mamãe, você não me quer?...

Você quer me matar?...

Por quê, se eu já te amo!

Mãezinha, não faça isso,

Já sofro, já sinto dor;

Por quê você não quer o meu amor?

Não sentiu prazer em me fazer?”

“Ah! Se você pudesse me escutar...

Iria saber, o quanto eu dependo de você.

Você me protege,

Me alimenta,

Sua voz me acalenta.”

“Mas, você não me quer...

Vou atrapalhar a sua vida.

Que pena!!!

Já sentia sua mão a me acariciar,

Meu sorriso a te alegrar,

Minha vida a te entregar,

Para você cuidar.

Me ensinar a falar...

Me ensinar a andar...

Mas você não me quer!

E, nem sabe, o quanto eu já te amo.”

“Deixe pelo menos eu nascer,

Para eu poder me defender.

Eu sei, que quando você,

Meu primeiro sorriso ver,

Irá por mim se apaixonar,

Como me apaixonei por você.”