Fonte: Fotografia exrtraída do SITE BAIXAKI

              O amor de minha irmã....

          Quando eu era criança, ela também era, afinal é apenas dois anos mais velha que eu. Íamos juntas à escola, e nossas sacolinhas de levar a merenda eram parecidas. A dela não lembro bem quais eram os desenhos, a minha era cheia de peixinhos.
          Sempre foi a de saúde mais frágil, teve anemia e precisou comer muito bife de fígado (argh!). Lembro que uma vez, mamãe, que era muito crédula, fez uma “simpatia” para que ela melhorasse da anemia. A coisa era mais ou menos assim: - Rala um coco e mistura com um litro de leite e deixa no sereno. No outro dia faz o doente comer tudo. Minha irmã não conseguiu comer nem a metade daquele enorme prato, e, por sorte e pelo licor de ferro, a anemia foi embora.
          Eu  fui a criança  robusta, bonita,  com cara de boneca de porcelana. Ela era pálida, esquálida e de saúde frágil. Mas desde cedo era valente. Houve um dia em  que meu irmãozinho caiu de boca numa vala e eu, em vez de puxar o guri, fiquei gritando por socorro. Ela chegou em um minuto e o puxou pelas perninhas, me passando um sabão.
          Casou-se cedo, minha heroína e logo teve filhos. Nessa época eu dizia que não teria filhos, pois achava que não saberia como educá-los. Seus filhos, os dois primeiros, chegaram quando eu era ainda uma adolescente. Hoje já eles têm filhos e eu sou uma tia-avó coruja.
          Minha irmã, a fraquinha, foi surpreendendo a todos durante o curso de nossa história. Quando mamãe adoeceu, ela ficou ao seu lado até o fim. Quando papai adoeceu, nós duas passamos ao lado dele durante toda a noite e eu fui a primeira a deixar o hospital. Ela ficou lá... Quando eu cheguei em casa, foi ela quem ligou dizendo que ele tinha partido. Ela sempre teve  uma predileção por cuidar dos velhos da família, sempre os tratou com um carinho que provocaria um belo sorriso em Irmã Dulce.
          Depois de alguns anos, Leninha  ficou grávida da sua terceira filha, e eu, sete meses depois, também engravidei. 
          Quando meu filho nasceu, a minha sobrinha já estava com sete meses. Minha irmã, a fraquinha, era provida de muito e abençoado leite materno. 
          O medo, a falta de experiência e as dificuldades vindas de uma cesariana, não conseguiam saciar a fome do meu filho, que nasceu com cinco quilos e tinha um estômago de avestruz. Meu sogro me entupia de cerveja preta, chá preto, café preto, litros de água e qual, meu leite “empedrara”. Minha irmã, vocês sabem, aquela fraquinha, que morava uns 30 km longe da minha casa, pegava sua filha, entrava num ônibus lotado e passava a tarde amamentando meu filho e me ajudando a “desempedrar” o leite. Sobrevivemos.... graças à Nestlé.
          No início desta semana, eu, sozinha em casa, depois de um temporal que se abateu sobre Curitiba e a Região Metropolitana onde mora minha irmã, telefonei a ela para um blá blá blá rotineiro. Perguntei-lhe o que estava fazendo e ela me disse: -           Acabamos de chegar da igreja. Deu um toró d’água aqui e os passarinhos da nossa árvore começaram a padecer. Fizemos um mutirão e recolhemos o que pudemos numa caixa. Agora as crianças estão ali, secando os bichinhos e depois vão soltá-los. Não conseguimos salvar a todos. Vimos uns, já durinhos pelo gramado....
          Enfim... esta é minha irmã:
          - Nem tão egoísta que não possa dividir o leite de suas entranhas com o meu filho glutão;
          - Nem tão pobre que não possa distribuir um pouco com os mais necessitados;
          - Nem tão carente que não possa me fazer sorrir e me dar um conselho quando a tristeza por vezes me abate;
          - Tão desprendida, a ponto de deixar de ver sua novela favorita para salvar os passarinhos da árvore do seu jardim...

          Que eu, seguindo o exemplo de minha irmã FORTE, possa recolher os passarinhos que passarem pelo meu jardim em dia de tempestade. Que eu possa acolher o irmão mais necessitado, que feito passarinho, procura as migalhas sob meus pés descansados. Que a exemplo de minha irmã, eu seja totalmente desprovida de vaidades vãs, de falsos pudores e de sentimentos que não me deixarão crescer como pessoa . 
          E que o Deus da minha vida, me ajude a perceber a minha pequenez diante da grandiosidade da natureza e das virtudes humanas! Sou mesmo uma garota de sorte por ter pessoas assim, como minha irmã, a circundar minhas veredas !

Lili Maia
Enviado por Lili Maia em 23/02/2006
Reeditado em 05/05/2010
Código do texto: T115235
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