Errar é humano?

Diante de um erro muitos de nós usamos esse dito popular como justificativa. Mas será que tal justificativa às vezes não é uma fuga da responsabilidade de querer acertar e assumir os erros?

Para bem entendermos a questão nos é necessário entender o que significa cada palavra, o que é “errar” e o que é “humano”.

Humano faz parte da nossa vocação primordial, a vocação à vida, de sermos criados por Deus, à Sua imagem e semelhança. Por sermos criados dessa maneira, nossa humanidade está revestida de Deus e, portanto, está revestida da Bondade e do Bem. É bem verdade que o pecado original manchou essa dignidade primordial, contudo, Jesus Cristo, através da sua vida, morte e ressurreição nos devolveu tal dignidade, que nós assumimos quando fomos batizados.

Ser humano é assumir essa participação com o Divino. É assumir valores existentes em nós a partir de nossa liberdade. A liberdade encontra sua perfeição quando é orientada para o Bem, através da vontade (inclinação natural) e da razão, no fim último de cada ato realizado, que deve ter sempre como pressuposto a vontade de Deus.

Aí é onde podemos confrontar o erro com o humano. Nossa liberdade, quando não orientada para o Bem da vontade de Deus cai no erro, nesse caso a verdadeira liberdade não existe, dependendo do grau torna-se escravidão. O erro pode ser visto de duas maneiras: O erro descomprometido com a Verdade do que realmente somos, nesse caso o erro é proposital; e o erro que acontece quando existe tentativa do acerto, da busca do bem, da felicidade.

“Nossos erros às vezes deixam os outros mais a vontade”, e tal frase não contradiz o que escrevi acima, um exemplo: Lembro uma vez quando estava viajando (de Portugal para Brasil) ao meu lado estava uma jovem, eu estava a começar a oração da liturgia das horas e a convidei para rezar comigo, ela aceitou. No início percebi que ela estava meio envergonhada e estava com dificuldades para ler, então eu propositalmente comecei a “errar” a leitura, lendo pausadamente. Percebi que essa atitude deixou a moça mais a vontade, e ela começou a ler com segurança e devoção. Evidencio o erro dela, que precisou apenas de um incentivo para não mais ser erro, ela poderia ter dificuldades de ler e tudo mais, mas eu percebi que esse não era o problema. O problema era o medo existente, pois muitas vezes não acertamos por causa do medo do erro, por medo de errar deixamos de acertar. Após a oração a moça ainda partilhou um pouco comigo de sua vida, ela estava mergulhada em muitos erros, o principal era o de querer separar-se do marido. Com humildade/verdade digo, eu fui naquele momento para ela uma luz, pois pude ajudá-la a perceber os erros e a enxergar um novo horizonte na tentativa do acerto. Não tive mais notícias da moça, mas sei que o erro pior eu poderia cometer se não assumisse naquele momento a Verdade do que sou (humano/cristão/religioso) e não fosse naquele momento para ela uma voz Divina.

Em geral, ninguém erra porque quer, há circunstâncias que levam ao erro que às vezes não conseguimos enxergar. Muitos erram porque se enganam, e o engano por vezes é pior que o erro. Pois quando erramos temos mais chances de retornar à Verdade do que quando estamos enganados, pois o engano faz com que sejamos detentores de uma Verdade criada por nós somente, mas na verdade é mentira.

No sentido de querer acertar, o erro pode sim ser considerado “humano”, mas não é o sentido pleno do conceito. Isto porque acertar também é humano, e, aliás, acertar é a normalidade do ser humano, aquele que foi criado à imagem e semelhança de um Deus perfeito.

Por isso não quero afirmar ou discordar desse dito popular que perdura há anos, quem sou eu! Mas quero apenas deixar essa reflexão para que nossos erros não sejam mais vistos como mera culpa da nossa humanidade, mas que saibamos assumir os erros, confiando na misericórdia Divina.

Que saibamos sempre assumir os valores que há em nós e lutarmos para que, em cada ato nos esforcemos para acertar, isso sim é ser humano, e assim poderemos dizer também: ACERTAR É HUMANO!!!

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 12/07/2009
Código do texto: T1695840
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