O DILÚVIO

Vista daqui, a história de Gilgamech, rei de Uruk, não é mais do que uma lenda. O mesmo não ocorre com Uruk, que, assim como Ur dos caldeus (onde teria nascido Abraão, o patriarca dos judeus), existiu.

A lenda de Gilgamech está repleta de mistérios entremeados com a descrição de uma viagem rodeada de números sete: sete sábios, sete pães, sete ferrolhos, sete candeeiros,... A sabedoria popular chegou a dizer que o sete era “a conta do mentiroso”, contudo, para Gilgamech parece que o número está relacionado com a perfeição.

Assim como o sete, outra lenda de Gilgamech é encontrada na Bíblia. Trata-se do Dilúvio – evento lendário mais antigo que o próprio Gilgamech, mas, segundo a lenda, este conheceu pessoalmente o construtor da arca, que teria sobrevivido ao Dilúvio juntamente com sua família. A lenda do Dilúvio era comum aos antigos mesopotâmios, nem por isto trata-se de uma lenda exclusiva dessa civilização e os povos dela derivantes: os caldeus (os semitas e canitas). Também não é exclusiva dos semitas e dos canitas só porque está relatada na Bíblia. Os medos (da Média) primitivos contavam de uma lenda sobre um certo deus que criou o homem do barro vermelho, de onde vem o nome Adão (Adam), e, indignado, tentou destrui-lo numa enchente. Os nórdicos das terras altas e geladas, bem como os africanos, os persas e os gregos primitivos também possuíam sua lenda sobre o Dilúvio. Ásia, Europa, África, em fim, nas extremidades e espaços intermediários desses continentes tal lenda se tornara popular entre civilizações distintas e povos bem distantes, isto há, pelo menos, quatro mil anos. Porém, povos mais longínquos, como os olmecas, astecas, incas, maias, etc., habitantes primitivos das Américas, também contavam a lenda do Dilúvio.

Nos últimos dois mil anos a “lenda” se espalhou pelo mundo através da Bíblia. Como teria se disseminado antes desse tempo é uma incógnita, pois a Arqueologia apura que não havia ligação de qualquer espécie entre as civilizações americanas e os povos dalém do Atlântico desde muitos milhares de anos. Sendo assim, se lendas são fruto da imaginação local, por que razão esta lenda em especial teria se tornado universal? A resposta pode estar na consideração da hipótese de o Dilúvio ter realmente ocorrido e a hecatombe diluviana ter-se dado em todo o planeta. Mesmo assim, para os americanos primitivos, a lenda não teria se originado nas Américas. A própria lenda diz que sobreviveram à catástrofe universal apenas oito pessoas, as quais, segundo os mesopotâmios, deram origem aos médio-orientais, que posteriormente povoaram a Terra. Sendo assim, os povos não-mesopotâmios teriam importado a lenda do Dilúvio da própria Mesopotâmia, pois esses povos são ramificações dos mesopotâmios (os semitas, os canitas e os jafenitas). Estes últimos seriam os gregos, os nórdicos e os de língua romântica. Eles teriam partido dessa região logo após o Dilúvio, indo colonizar o resto do mundo. Por outro lado, se os povos não-mesopotâmios produziram essa lenda sem sofrer a influência da região mesopotâmica, o Dilúvio passa a ser uma lenda universal que surge simultaneamente em diferentes regiões do planeta. Por conseguinte, obrigatoriamente, ele perde o caráter de lenda, tornando-se factual, porque lendas não surgem em regiões distantes e de culturas distintas simultaneamente.

Finalmente, se essa lenda deixasse de ser lenda, a humanidade poderia dar credito também a outras “lendas” bíblicas, hipóteses, muitas vezes, melhor evidenciadas que muitas das teorias da evolução. Então, com as teorias criacionistas em alta, logo poderíamos dizer também que nunca fomos uma matéria orgânica da qual se originou evolutivamente a vida; tampouco fomos unicelulares, bem como não fomos bactérias, vermes, amebas, répteis, macacos, etc. Os evolucionistas não conseguiram desencavar um só fóssil dos elos de ligação, deixando uma lacuna de milhões de anos entre os filos existentes e seus antepassados pré-cambrianos. Poderíamos então estar seguros que desde o início fomos erectus, bem pensantes, capazes de inventar os pavores místicos a fim de dominar os supersticiosos; inventamos também a superstição, criamos a diferenciação social (as classes) e o racismo.

Wilson Amaral - Estudante de História da Unisinos e autor dos livros Os Meninos da Guerra, Primeira edição, Editora Hércules, Porto Alegre. 2003, segunda edição, Editora Laboratório do Livro. Porto Alegre. 2004, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, Editora Laboratório do Livro. Porto Alegre, 2005.

e-mail: wilsonrrhamaral@yahoo.com.br

Wilson do Amaral
Enviado por Wilson do Amaral em 06/02/2007
Reeditado em 09/02/2007
Código do texto: T371911