A missão de São José autor Dom Eugenio Sales

Parabéns a todos nós filhos de José, o Justo!

A missão de São José

Dom Eugenio Sales

A Semana Santa oferece excelente oportunidade para um reexame de vida religiosa e ocasião propícia a um maior aperfeiçoamento de nossa existência, seguindo o exemplo de Cristo Jesus. Para isso, tomemos por modelo um homem, cuja vida, embora nos sejam narrados poucos dados, sabemos ter sido fiel aos desígnios divinos. Trata-se de São José, exemplo para cada católico como protetor da Igreja, Corpo Místico de Cristo.

Neste mês, tradicionalmente consagrado a esse patriarca, a sua festa é, há séculos, celebrada a 19 de março, mas, neste ano, por ocorrer na Quarta-Feira Santa, será antecipada para 15 de março. Ele assume de fato o papel de esposo da Virgem Maria e de pai legal do Senhor Jesus.

À sua figura e à sua missão o papa João Paulo II dedicou a exortação apostólica Redemptoris custos (O protetor do Redentor), publicada a 15 de agosto de 1989. Relembra o documento como os cristãos, desde os primeiros séculos, dedicaram a este santo uma particular devoção, pois "assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo Místico, a Igreja" (nº 1).

Os Evangelhos pouco falam de José. Ele é apresentado como um "homem justo" (Mt 1,19), cuja vocação sublime é revelada pelo Anjo: "José, filho de Davi, não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,20-21).

O santo patriarca é cabeça da sagrada família. Diante dos homens ele cumprirá essa missão com fidelidade e modéstia, como tantos que, desde sempre, se consagram ao lar com um amor vigilante e um serviço permanente e abnegado. Com Maria, está intimamente associado ao mistério do verbo encarnado, colaborador também dos planos salvíficos do Pai realizados pela paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Hoje se fala tanto de crise matrimonial. Nazaré, no entanto, nos recorda a importância fundamental da instituição familiar no desenvolvimento harmonioso e integral da personalidade humana. De Jesus, comentam os seus contemporâneos: "Não é o filho de José, o carpinteiro?" (Mt 13,55). Dele Jesus herda a profissão, pobre mas honesta, e se insere concretamente no mundo dos homens; bem como cultua todo o amor natural e a solicitude afetuosa que o coração paterno pode e sabe exprimir.

Como solícito protetor de Jesus, o patriarca é apresentado pelos Evangelhos em todos os acontecimentos referentes ao nascimento do Messias: é ele que atende ao chamado do recenseamento e leva sua esposa Maria a Belém; busca, de porta em porta, um abrigo para aquela que devia dar à luz o Salvador; é testemunha do nascimento do verbo eterno de Deus e da adoração silenciosa dos pastores e dos magos.

Como pai civil do Menino, está presente nos momentos solenes, exigidos pela Lei mosaica: coube-lhe dar ao recém-nascido o nome de Jesus ("Deus-que-salva"), para indicar a própria missão redentora do Filho; ofereceu o sacrifício que resgatava o primogênito, no Templo de Jerusalém. Foi ele o responsável pelo Menino, na fuga ao Egito, livrando-o da sanha assassina de Herodes. E, por fim, na sua última aparição nos Evangelhos, foi testemunha da permanência de Jesus em Jerusalém, sinal do início de seu ministério entre os homens: "Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" (Lc 2,49-50).

Mediante o ofício da paternidade, acompanha solícito o desenvolvimento humano de Jesus, contribui para o amadurecimento de sua natureza humana. Torna-se, assim, modelo de pai, esposo e chefe de família. E por seu trabalho, é para nós um ensinamento vivo.

Sua vida, tal como nos é apresentada pelos textos evangélicos, é caracterizada pelo silêncio. Ele é uma pessoa envolvida pelo mistério de Deus, em seu contacto cotidiano com o verbo encarnado, escondido na realidade de uma criança. A sua submissão atenta e confiante aos planos de Deus, sua dedicação amorosa ao lar, são outros tantos exemplos de alguém que viveu uma vida de fé, animada pela caridade.

Entende-se, assim, que a grande doutora mística, Santa Teresa de Jesus, tenha podido escrever sobre ele: "Peço, pelo amor de Deus, que prove quem não crer, e verá por experiência o grande bem que é encomendar-se a este glorioso patriarca e ter devoção por ele; especialmente as pessoas de oração deveriam sempre ter-lhe afeição. Quem não encontrar mestre que lhe ensine a orar, tome este glorioso santo por mestre e não errará o caminho" (Autobiografia, VI, 8).

Protetor do Menino Jesus, São José é também invocado como defensor da Igreja, o Corpo Místico de Cristo. A comunidade cristã sempre a ele recorreu, particularmente em tempos difíceis. Lembrava-o o papa Leão XIII, no final do século 19: "De modo análogo àquele com que outrora costumava socorrer santamente, em todo e qualquer acontecimento, a família de Nazaré, também agora cubra e defenda com seu celeste patrocínio a Igreja de Cristo".

Neste terceiro milênio de cristianismo, ela se defronta com a necessidade de uma reevangelização, vitalizadora e corajosa, que leve ao mundo novo alento de valores cristãos. Nem sempre o ambiente é propício, antes é francamente hostil. São muitas as ameaças, até mesmo internas, que afligem a comunidade de fé. Por isso, façamos nossas as palavras de João Paulo II: "Nos dias de hoje, temos ainda numerosos motivos para rezar: afastai de nós, José, Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. Assisti-nos do alto do céu na luta contra o poder das trevas. E assim como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus das ciladas de seus inimigos e de toda a adversidade".

Nesta Semana Santa, a vida e missão de São José nos levem a bem aproveitar as extraordinárias riquezas espirituais destes dias em que comemoramos a paixão, morte e ressurreição de cristo.

Parabéns a todos nós filhos de José, o Justo!

evilazioribeiro
Enviado por evilazioribeiro em 16/03/2008
Código do texto: T903656
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