Três contos

MENDIGO

O mendigo me pediu um trocado e eu só com dinheiro inteiro. É por isso que não vou para o céu, penso. Preciso estar preparado para improvisos. Ele insiste e eu, nada. Entro no bar e tomo uma coca-cola e a moça do caixa me dá troco pra 20. O mendigo tromba comigo de novo e, enfim, lhe dou o trocado. Missão cumprida! Deus, agora já tô anjo, consciência tranqüila... A gente tem uns mistérios, uns detalhes. Boas bobagens!

OCASO

Não creio muito em coincidências, na exatidão da ciência e nem em tudo que as religiões pregam, acho que nada é tão perfeito. O ocaso, sim, é um mistério, quando a gente cruza gente distinta, um meteoro corta o céu, as tintas que se misturam nas cores, dores e amores, as rimas acontecem, palavras que se tecem... Se a vida fosse sem véus, não teria medo, não teria graça. O implícito me interessa.

CHUVA

No exato segundo, eu olho para o céu, quando cai um raio. Um desejo se cria. A chuva fina vira tempestade no meio do caminho. Ali na esquina está um cara vendendo guarda-chuvas. Um anjo ele seria?