A avenida se apresentava úmida da chuva da tarde, os charcos refletiam o neon ,formando luzes oscilantes que se fundiam as dos carros que passavam . Tudo me parecia normal, nada que já não tivesse visto outras vezes, mas sentia uma paz que não costumo ter.
                Seguindo pela calçada parei no anúncio da banca de revistas, algo me chamara a atenção, qualquer bobagem da TV, talvez pela forma como foi exposto , e como já não tinha o que fazer, me detive por um minuto .
                Um mendigo esbarrou em mim balbuciando palavras incomprensíveis, que ignorei , depois me pediu 1 real, que lhe dei de bom grado, logo saiu trôpego  como veio, falando aos ventos na sua estranha linguagem.
                Pensei ; " Pobre criatura de Deus, em que sonhará se é que ainda lhe convém sonhar ?!"
                Saíra agora pouco de uma reunião sobre problemas que não me pertenciam, ouvindo opiniões e lendo relatórios analíticos, coisas núméricas e maçantes que entediam - Isso é vida ?  - Vida é este ar que respiro, molhado da chuva e que trazem lembranças da infância.
                Duas estações de metrô me bastariam para chegar em casa, e ainda são dez da noite, o que me permite tomar um café com torradas, e se perdesse a fome seria por um bom motivo.
                Amanhã é sábado, dia de bermuda e sandálias, levar o Toby para passear no parque, ele gosta de paquerar as cadelinhas do bairro, tem até as preferidas, o danado !  Quando volta para casa vem sorrindo de felicidade,  só falta falar - Sim, é claro que os cães sorriem , é há os que chegam a gargalhar...mentira !
               Rio disfarçado dos meus pensamentos para ninguém notar, mas o vagão está quase vazio , alguns estudantes e gente perdida no cansaço da jornada, ninguém repara em outras vidas, a couraça humana é muito espessa para ser ultrapassada.
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 22/09/2018
Reeditado em 22/09/2018
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