VERDADES TEMPORÁRIAS

Após cinco meses de estiagem, o dia nasceu completamente nublado. O céu, em toda a sua extensão, cobre-se de nuvens chumbadas, como se fora um ventre aquoso grávido da primavera que se aproxima.

As mangueiras estão todas floridas; dos cajueiros pendem frutos intumescidos, exuberantemente carnosos nas cores amarelas e vermelhas; os jambos, também vermelhos, são como lábios nas copas dos jambeiros, e oferecem-se como beijo fagueiro aos pássaros frutívoros.

A tudo em que se aguça o olhar, há uma surda movimentação da bicharada e do mato que aguarda; e aos sentidos atentos não escapam os pormenores que anunciam a mudança de estação.

Absorto, como se pelo instinto retornasse ao todo de ter sido um dia criado puro, contemplo em espírito a energia que a tudo revolve e renova; e o dia, e as árvores, e a chuva, e a atmosfera somos um só.

E concluo, como verdade temporária, que a saudade nada mais é que o desejo de um futuro com o prazer que se teve no passado.

E que o presente, na sucessão ininterrupta das coisas e sentimentos, é o movimento em busca das primeiras descobertas.