Estátua de sal

Perdi o controle de mim. Já não respondo com coerência ao chamados do bem viver. Escoam entre meus dedos rios de lágrimas que tento represar com as mãos e determinar o seu curso de volta ao coração. Em vão. O peito reage em ondas que sobem e descem na tentativa de sugar o que ainda é possível de alívio. Em vão. Implacável, a angústia gela o corpo biblicamente travestido de estátua de sal por ter cometido um único erro: olhar para trás. Olhar para trás e descobrir a estrada não percorrida, abandonada, negligenciada, coberta de ervas daninhas que teceram o tapete nunca pisado, nunca percorrido.Tapete que hoje aquece a terra virgem, seca pela aridez de meio século de ausência de um único ser: o meu verdadeiro eu, real lavrador dos sulcos do solo morto, enrugado pela própria enxada da vida.