Intimidade e reverência

... Ambas se completam e/ou se tornam inimigas quando separadas. É uma necessidade recíproca para que haja bons relacionamentos, quaisquer que sejam: pais-filhos, patrão-empregado, casais, professores-alunos,mestres-discípulos

A intimidade se conquista aos poucos no respeito, na reverência de quem se está buscando ser íntimo. É errôneo querer ser íntimo sem antes ser reverente de alguém; Pois na reverência se entra certa deferença na alteridade, na educação, na formalidade, nos gestos, nas palavras, na razão, no cuidado, no discernimento, no jeito de acolher e de se entregar.

Quando se começa a ter intimidade, que conota sinceridade, proximidade, essência, emoção, cordialidade, afetividade, liberdade, não significa dizer que perdeu-se a reverência. Pelo contrário, na intimidade a reverência deve ser plenificada e continuada de um maneira nova no relacionamento.

Aprendi muito isso na vida do Seminário e em particular em alguns ofícios que lá desemprenhei. Dois ofícios em especial: Fui durante um período secretário do superior geral da Congregação (adre Leomar,sjs). Era muito amigo dele, muito íntimo então, digno de andarmos de bicicleta juntos, contarmos piadas, fazermos duetos teatrais, partilharmos sobre uma dor semelhante da ausência física de nossas mães, cantarmos, etc. Porém, haviam momentos onde eu necessitava colocar-se no meu lugar e ter reverência à ele, respeitando-o na sua função de sacerdote e de meu superior; Outro ofício, que para mim era muito satisfatório e nem considerava um ofício de tanto que gostava, era o de cuidar de um sacerdote bem idoso, padre Mario Ugo. Um sacerdote italiano, um tanto duro, tradicional em suas idéias, mas fragilizado pela doença e encamado, eu era o responsável pelos seus cuidados com mais 4 irmãos, desde a parte burocrática até os cuidados físicos (alimentação e higiene) na parte da noite. Aprendi a ter o equilíbrio entre a intimidade e a reverência.

Reverência em demasia é um bloqueio para que a intimidade seja concebida; o contrário também é verdade, a intimidade sem reverência torna-se vazia, o relacionamento não se enraiza e corre o risco de ser superficial.

"A virtude está no meio", dizia o sábio Tomás de Aquino. Então, está no equilíbrio, como dizem "nem 8 nem 80", ou em outras palavras: "Nem intimidade demais, para não deixar de ser reverente e nem reverência demais, para não ocultar a intimidade".

Em suma, o ideal da realidade de qualquer relacionamento é que ambas se percam entre si, se misturem no sentido de uma continuar o que falta ou o que tem em demasia na outra. Enfim, Quanto maior a intimidade, maior a reverência, e vice versa.

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 11/01/2010
Código do texto: T2023003
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