Luto no Bumba

Há mais de meio século ando por esse cenário. Percorri a infância, a adolescência, juventude e, agora, a meia idade pelos mesmos caminhos. As linhas da palma da minha mão são como as ruas de minha cidade. Passeio por todas, de olhos fechados, sem erros, tanta é a minha intimidade, cumplicidade com essa urbanidade com sotaque de interior. Por suas ruas reverencio figuras que estiveram comigo por mais de meio século e que, de uma forma ou de outra, participaram de, pelo menos, um sopro, um respirar de vida minha. Não importa quem somos, mas nos conhecemos de alguma festa, enterro, bodas, sei lá... Hoje, nossas frontes sem o quê de juventude abrigam rios de lágrimas solidárias atoladas na torrencial enchente que sepultou parentes, amigos, conhecidos, mesmo que de vista. Lágrimas de impotência, de indignação pelo descaso com a cidade que já foi a quarta em qualidade de vida no País. Do alto do lixo da Comunidade do Bumba, cemitério de vidas, lançamos nosso grito de dor que ecoa, mais uma vez, no vazio e, em resposta, nenhum eco... Só lama, lixo e dor....

(Texto de uma niteroiense indignada e que alerta para o fato de que as eleições estão aí.... Não devemos esquecer disso)