Diferenças: barreira ou riqueza?

Descobrir as riquezas das diferenças é um processo que requer muita maturidade e paciência, virtudes que devem estar ancoradas na segurança. O diferente pode ser visto de duas formas: como uma ameaça ou como algo que afirma ainda mais nossa identidade.

Torna-se ameaça quando não consigo apreciá-lo e, pelo contrário, fico comparando e mensurando-o com aquilo que não aceito ou ainda não tenho. A insegurança, nesse sentido aparece como algo que define bem a pessoa que se vê ameaçada perante o indiferente. Por sua vez, a insegurança - fruto de um sentimento de ameaça - vai gerar outras conseqüências. O ataque é a principal delas.

Podemos usar o exemplo dos cachorrinhos para entender essa forma de encarar a diferença. Franzinos que são, vêem-se o tempo todo ameaçados e por isso usam o latido como uma forma de atacarem (defenderem-se). Daí a expressão: “Cachorro que late não morde”. Bom, eu prefiro não arriscar, o cachorro latindo ou não (RS), mas é algo que o senso comum dita e tem de certa forma, alguma base lógica e psicológica, se é que os cachorros têm a parte psíquica. A ameaça de perder o território, a preferência, o amor, a voz, a vez, o lugar, tornam os cachorrinhos agressivos. O medo de perder faz com que a vida deles se baseie na autodefesa, e isso fazem em forma de ataque. Talvez eles não tenham o que oferecer aos donos, a não ser a forma de defendê-los de algum invasor, mas antes, a defesa é animal, pelo medo de os donos perceberem a covardia que reside neles.

Enfim, a atitude de atacar é explicada a partir da insegurança que se tem por causa de uma ameaça sentida, que na verdade não existe concretamente, mas existe por algum medo, algum ciúme, alguma comparação perante o confronto com o diferente.

Quem não tem segurança não consegue falar de si mesmo, a solução será sempre atacar o outro, falar mal dele. É atitude de covardia, embora haja uma valentia aparente no teor das palavras e gestos.

Contrário à ameaça está a tranqüilidade. Uma tranqüilidade que provém da reflexão vital para com a liberdade. Compreendendo a minha liberdade eu consigo compreender melhor a liberdade o outro.

É o tipo de pessoa que busca enxergar o que o diferente tem de atraente, no sentido da aprendizagem. Consegue perceber que a diferença não é barreira, mas é uma riqueza que se chega e pode acrescentar à vida. Sobretudo, confrontar-se com o diferente é uma possibilidade de afirmar mais a identidade, seja por satisfação naquilo que a constitui, ou seja por humildade e aprendizagem naquilo que lhe falta e precisa-se ainda adquirir.

É muito bonito o processo da transformação, do respeito, da adesão, da união, do crescimento, que muitas vezes podem acontecer a partir de algo proposto. Mas é muito feio o discurso imperativo, o julgamento das intenções, a agressão que é feita a partir da imposição.

Propor é diferente de impor. Quem propõe fundamenta-se no amor existente. A intenção não é outra a não ser o bem da pessoa. Mas quem impõe não se preocupa tanto com o amor, age mais por egoísmo do que por alteridade.

No que diz respeito ao tema “Religião”, é um assunto sempre em debate e que geralmente não se tem muita definição. Deus deve ficar muito triste acerca das discussões, das definições, dos julgamentos, das divisões que acontecem.

Esse tema blogado (blog http://hudsonroza.zip.net ), foi-me proposto por um homem muito sábio, em função de um dos vídeos mais assistidos do youtube, em que uma cantora evangélica faz alguns comentários infelizes relativos à Igreja Católica (http://www.youtube.com/watch?v=okCRX8RQzdg&feature=related).

Não sou de ficar prolongando discussões, mas se me foi proposto esse tema por um leitor assíduo desse blog, é justo que eu dê minha opinião e escreva algo.

Dei minha opinião e a reforço dizendo que uma cantora inteligente, com uma voz muito ungida e que tem certo poder de influenciar almas na missão que tem através do dom recebido de Deus, admirada por muitos (inclusive católicos) não necessitaria dizer tais coisas; ela teria muita coisa boa para dizer, sobre a Palavra de Deus, sobre uma meditação, ou melhor, dizer em forma de música, que é um dom Divino que possui.

Como um católico praticante e alguém temente a Deus que busca seguir Sua palavra e mandamentos, também reforço minha opinião perdoando essa cantora. Sei que para perdoar é necessário um arrependimento de quem errou. Mas prefiro perdoar assim mesmo, ela se arrependendo ou não, para que o erro não mude de endereço e continue em mim com aquilo que posso comentar.

Prefiro comentar e propor aos católicos indignados que não divulguem o erro e as palavras dessa nossa irmã. Agindo assim, estamos prolongando o erro dela. É melhor perdoá-la, embora seja o caminho mais difícil, porque ninguém gosta de ser agredido na sua identidade, mas é o caminho mais digno para se alcançar uma solução.

Enfim, busquemos o diálogo, mesmo que às vezes calar seja necessário, às vezes é a melhor resposta para que o outro perceba por si só o erro.

Aquilo que une deve superar aquilo que separa

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 27/04/2010
Código do texto: T2222825
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