Outro olhar sobre a Palavra


A palavra às vezes cansa
em textos tão iguais, sempre o mesmo discurso,
sempre querendo mais
Palavra que pede, não mede não contemporiza
A palavra também esgota, desnorteia e tira o rumo.
Ela mata o texto, tira o doce, sai do prumo.
A palavra engana, ilude, entra como uma raposa
para fazer estrago no galinheiro.
Depois a palavra some, dorme, e se esquece do carinho.
A palavra às vezes resolve, aquece e voa
feito trisco de passarinho.
Quando doce, a palavra consome, realiza e afaga
Mas amarga, destrói, desmata e afoga
A boa palavra aumenta, distribui faz brotar
Esquenta as cobertas, faz do frio motivo de aconchego
A palavra documenta, sonda e modifica
Se insere no carinho, faz pulsar, inventa
Quando usada na medida, apimenta
Ou destempera, arruína o caldo
A palavra sem medida tira o sono
Desabriga
A palavra profana agride, destrói a vida
Muda de lado
Às vezes deixa recado sacana
Não muda seu riscado.
A palavra atordoa, contamina e polui
Se esconde nos guetos, no breu da noite
até amanhecer
A palavra desola, aflora desejos de vingança
Destrói o mote, arranca o broto
Fenece
A palavra também é prece
atitude e coragem
É mulher, amiga e confidente
Não se esvai completamente
Muda o rumo da prosa
Regenera e recobra o juízo
Sacode o pó da sandália
e,  caminha...
Lili Maia
Enviado por Lili Maia em 05/06/2010
Código do texto: T2301184
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