Mediocridade

Eu não queria a vida assim estática a engessar minha alma atormentada.
Eu não queria o coração assim inchado, moído, mal amado.
Eu não queria os olhos marejados, inundados pelas águas azuis e cristalinas de seu mar.
Eu não queria um respirar ofegante no ritmo do cotidiano.
Eu não queria um expressar tão pequeno de quem tanto tem a gritar.
Eu não queria essas mãos doídas em nós digitadores do amar.
Eu não queria essas pernas paralisadas, logo agora, quando há tanto a caminhar.
Eu não queria minha boca selada, amordaçada, silenciada pela falta de ousadia.
Eu não queria nunca esta forma tão medíocre de dizer que não tenho capacidade
de criar,
de reinventar,
de recomeçar,
de ressuscitar...



Foto:Denise Mello - Ubu - Espírito Santo - fevereiro 2008