DA VIDA E DO ENCANTAMENTO

Tenho trabalhado muito sobre o processo criativo que dá origem ao poema. Ótimo que ele possa cumprir a sua finalidade, se é que essa – acaso – possa existir. O que pretendo é que cada um criador de poemas seja um experimentador do processo de 'condenação' ao pensar. Que não se confunda POESIA com o mero 'recadinho bilateral de amor'. Que se possa fruir o poema por sua confraternidade e que a universalidade seja a sua "pedra de toque". Porque o poema é universo peculiar e autônomo. Não tem maior finalidade que o fato de viver por viver. E como os viventes somos nós, temos de lhe dar aplicação ao mundo real, se tal for de utilidade. Se não, bastam-lhe a estranheza e o alumbramento. Depois dessa dose de amor (ou de veneno), jamais seremos os mesmos de antes, na concepção sobre a temática referida na peça. E chegaremos a um bem constatável sem esforço: o vício de perscrutar os meandros da espécie humana embasbacados de vida e encantamento...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/2670749