UM DIVÓRCIO ENQUANTO CHOVE

Hoje acordei destruído, não sei se fui covarde ou sensato todo esse tempo em que eu agüentei a meu casamento instável, todos temos medos de perder aquilo que achamos que possuímos?

Ao menos ela foi mais corajosa que eu, nem se quer fingiu que se importava com nosso filho, só disse que iria, que não tinha ninguém e que queria permanecer sendo minha amiga. Amigos? Não somos amigos há muito tempo, será que ela não percebeu isso ou está querendo ser sarcástica?

Confesso que chorei pra caralho, choro mesmo, daqueles que te surpreendem pelo excesso de lágrimas incontroláveis, fiquei abraçado com meu filho que dormia. Pelo menos ele ainda não conhece os espinhos da vida (ou nascer já é a vida fincando sua espada em nós? Bem no fundo de nosso pulmão, nos fazendo abrir o maior berreiro?...) nem o sentimento de perda, dormia enquanto a pai chorava...

A vida é cheia de ironias, quando penso em por as coisas no lugar e estabilizar as coisas, tenho que começar da estaca zero, porra a minha vida é cheia dessas, sempre voltando à estaca zero, recomeçando, sempre tendo que escrever uma nova história, assim não fico de saco cheio, ainda bem, mas porra dói pra caralho, dói em mim, nela, vai doer no meu filho, não vai ser nada fácil.

Minha cara inchada na frente do espelho, meus vinte e quatro anos se reflete feito quarenta anos de tormentas e dúvidas, isso talvez renda algumas poesias, contos, pensamentos feito esse que escrevo agora, se não fosse a escrita eu estava realmente ferrado, o que eu faria? Procurar um padre? Pastor? Iria me deitar num divã e falar das minhas frustrações pra uma pessoa mais enrolada que eu? A escrita é libertadora mesmo, é capaz de nos fazer rever alguns conceitos...

Enquanto isso chove lá fora, merda de clichê! Sempre tem que chover quando essas coisas acontecem, por que não faz um sol daqueles de secar lágrimas e rachar os lábios?