A PRIMEIRA NOITE DEPOIS DO DIVÓRCIO

Peguei o ônibus com a sensação vertiginosa de que passaria aquela madrugada inteira acordado. A certeza de que chegaria em casa e encontraria a cama vazia e que não daria um beijo no meu filho antes de dormir me deixou num estado de vazio ruidoso. Um vácuo. É uma sensação sombria, o condicionamento é um estado sombrio, você fica tão acostumado com algo, alguém, com a rotina, que chega a dar medo sair dela...

O silêncio é algo perturbador, mas me sinto um pouco aliviado em saber que vou chegar em casa e tomar meu banho sem ter que ser incomodado por uma discussão idiota de novo, só o silêncio me dando nos nervos. E a noite, como há muito tempo atrás, fazia tempo que não parava pra observar as coisas, o estado de mudança do tempo com atenção, resolve ser uma nuvem densa empalidecendo tudo ao meu redor, com frio e solidão.

O medo, amor, ódio, ternura, raiva, solidão, saudade, tudo dentro de mim misturado sem ter como distinguir quem é quem, o que é o quê? E fico com meu vazio quando entro em casa e percebo que estou mesmo sozinho esta noite, mas é melhor assim, talvez hoje eu consiga realmente dormir em paz, eu e meus fantasmas...