NADA PIOR QUE PERDER A POESIA

Não há nada pior que perder a poesia,

a possibilidade de ver o mundo na transversal,

fora da ordem vigente, hierárquica e burra.

Ainda me preocupo com as coisas singelas,

pessoas simples,

suas histórias pessoais,

e me emociono com crianças, animais, velhos e suas recordações,

e com a solidariedade entre os pobres

(rico não é solidário, dá esmola e só).

Enfim, como é feia ostentação, a gana e a gula do poder,

que engole e tritura carater e amizade.

Tô fora deste mundo de gavetas,

pessoas separadas por cargos, chefias,

gente que fala fiado, se autorefere.

Como me fere tipos assim,

mas também me fazem mais forte

e convicto de estar certo,

porque continuo o mesmo,

não mudei, não me tornei pior com o tempo,

nem me tornarei, mesmo sob a tempestade.

Ainda se separarão joios e trigos

e tudo ficará claro, é certo.

A manhã é mágica porque clareia todos os meio-tons.