VIDA ATUAL, ARTE SURREAL?

Parece-me que o andamento das relações humanas hoje é célere, daí ser possível compreender os fáceis descartes, os “ficantes” não mais “atrás da igreja”, mas na cama de sua própria casa, a camisinha ao lado do leito familiar; a merenda comida antes do recreio... Tudo agora é "pra ontem" e o poema (que é obra tão humana quanto um filho nascituro) também nasce em geração curtíssima quanto ao tempo de formação dos detalhes desde o embrião. Percebe-se que o parto é sempre “de cesariana”... Também porque a maleta da fama (da janela global) está aberta ao mundo, numa territorialidade imensa, quase inacreditável. E a imagem é difusa, inespecífica, porque vista à distância, com pouca definição vis-à-vis... A publicação imagética pela net, há cerca de três décadas, tem o mundo por homenagem. E num imediatismo impressionante. Todavia, nem sempre ornada com a beleza que o espécime desejaria. Escorrega-se na imperfeição... E se a tolera sem imprecações, nas interlocuções, com o aporte do Novo em cada fresta de sensibilidade e gosto. Estaríamos em tempos de l’art nouveaux? Ou da humanidade surreal?

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4414104