Algo sobre Nietzsche e a "Genealogia da moral"

Revisando Nietzsche para a dissertação do Mestrado, lendo “Genealogia da moral”, ao falar sobre “plebeísmo do espírito moderno”, atentei, em sua “primeira dissertação”, ao seu quarto “aforismo”. Nietzsche diz lá que foi buscar, pela etimologia, a definição das palavras “bom” e “ruim” em várias línguas e encontrou que ruim designava sempre o “baixo”, o “comum”, “plebeu”; contrário a “espiritualmente nobre”, "espiritualmente bem nascido”, “aristocrata”.

O que Nietzsche quer dizer com “plebeísmo”, alerte-se, não se refere a nenhum antissemitismo, racismo, qualquer ideia racial. Refere-se a uma evolução errada da humanidade, temporalmente, que seguiu por caminho em depressão, para baixo, divergindo dos desígnios naturais, universais. Uma moderna cultura habitada por sentimentos de culpa, obrigação, castigo, fardo (desfavorável à existência, à permanência, à vida). Primada pelo pecado, moralismos, senso-comum. E pelo empobrecimento do espírito perante o racional, a perda do impulso, da verdade “abstrata” do ser, se assim quase bem eu exponha este pensamento.

Daí pergunto: um dia isso há de consumar-se; digo, isso há de superar-se? Ultrapassaremos o homem atual, judaico-cristão, e uma nova era emergirá niilisticamente? Poderemos nós inverter, quem sabe aos pouquinhos, a história própria da humanidade, iniciando uma nova humanidade, desde o ano zero, uma outra vez? Ou, antes disso, nosso privilégio pela desorganização vá nos levar à autodestruição, anterior a que qualquer mudança brusca possa nos ocupar e nos salvar?

De minha parte, acho que sim. Acho que o homem irá superar-se, não tanto quanto quis Nietzsche talvez, mas vai ultrapassar-se moralmente, cristãmente. Só que então não sei qual a parcela da sociedade que ainda estará aí, que sobreviverá. E nem penso simplesmente em sobrevivência apocalíptica, de desastre natural, ou coisa assim. Estou falando da tal seleção nietzscheana que, de uma forma ou de outra, após a destruição, indissociavelmente, vai ter que prevalecer. Uma sobrevivência trágica, maior que atualmente a nossa cabeça possa talvez suportar.