Ah meu Deus!
O que foi que aconteceu?
Pouco ou de nada me lembro.
Ou escondo para na sofrer.
Fui criança
e não gostei!
Amei o vento,
a chuva, a terra molhada.
De tudo me lembro,

mas quero esquecer.
Hoje compreendo 
que criança, não fui.
As calças eram curtas,
mas os pensamentos mal cabiam na minha cabeça.
Meus passos?
Veloz como o vento!
Não gosto do vento...
Caminhos longos percorri.

Às vezes à pé,
outras de bicileta,

e, algumas outras,
a cavalo.
Tão criança
e um cavalo comprei.
Cuidava mais dele 
do que de mim.
Sela bonita,
de um amigo comprei.
Custou o preço de algumas galinhas
roubadas de meu pai.
Eram muitas,
meu pai não saberia.
Cresci e o mar encontrei.
Mulheres? Muitas...
Elas saiam da onda incessante do mar.
Na cabeça trazia,
cabeça cheia de Deus, do demônio,
do vento e do pecado.
Ainda não sei porque não gosto do vento.
Penso que ele também
não gosta de mim.
Guardo na memória,
e em papel da cor do tempo,
como um tesouro,
tudo o que se relaciona
com a minha vida.
Por que?
Essa noite eu não dormi.
Eu simplesmente morrera.
À minha volta
ou a volta do meu corpo,
formigas...
Milhares de formigas
saiam solenemente de um buraco.
Ali, deitado, o morto
seria velado por formigas.
Esqueceram de me dizer
que eu estava morto.
Pouco importa,
morrera sem ter nascido.
Mesmo morto, eu me dizia:
A lua vazia, aproxima o tempo distante,
chora nos ombros da alegria,
eterniza um mínimo instante!

Roberto Gonçalves

 
RG
Enviado por RG em 23/04/2015
Código do texto: T5217699
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