Onde está o amor?

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!

O amor da Humanidade é uma mentira.

É. E é por isso que na minha lira

De amores fúteis poucas vezes falo (...)"

(Augusto dos Anjos)

Procuro o amor verdadeiro, observando os casais em suas grandes festas de casamento. Sabendo que o homem trai e a mulher imagina que ela é única na vida dele. Fico procurando: onde está ele aqui nesta festa, em que a noiva parece mais um pavão enfeitado. O amor pegou o beco na hora em que ela disse sim? O homem até cantou para ela ao entrar na igreja! Que coisa belíssima! Mas, o amor sentou em alguma mesa para vê-los dançar a Valsa? Este amor jurado aos pés do reverendo e na frente de tantos convidados será suficiente para acalentar a criança que pode nascer? Será suficiente para suportar a chatice do outro? Será capaz de acalmar-se no momento em que ela estiver indisposta?

Que amor será esse que eu procuro debaixo da mesa? Será que eu não vi no olhar dos dois que se beijaram no altar? Por que o procuro? Será porque vejo uma ligação muito mais material e consumista? Será que é pelas normas da família que juntaram o casal? Ou será que é porque é conveniente para ambos terem a mesma profissão e religião? Isso é amor ou contrato social?

O amor que sofre quando o outro sofre está ali presente? O amor que espera que o outro compreenda, o amor que deixa livre o outro para que se sinta bem ao seu lado... Um amor que exista além das convenções e compromissos. Um amor que cura e quer ver o outro feliz e não o bloqueia com o ciúme... Um amor que sempre recomeça e que pede perdão em suas falhas porque sabe que o outro o amará após o erro. Pelo menos um erro não tão grave mas se fosse tentaria entender porque existe diálogo. Talvez esse amor que estou presenciando nessa festa seja aquele que vai dormir por obrigação e vai ao supermercado por obrigação. Aquele que quer mostrar para a sociedade que existe uma aliança.

Porém, o amor que eu procuro é um que me faz aproximar do meu propósito espiritual e não apenas um contrato social. O que eu procuro é algo precioso, que transcende este plano e que não se importa com o dinheiro ou com o status. Esse amor que não precisa ser estampado na mídia porém esteja estampado no rosto. Que esteja gravado no coração e que esteja conectado com o céu. Aquele que está disposto a aprender sempre a conjugar o verbo amar. Aquele que é pureza em todos os gestos e que se engrandece com as pequenas coisas. Esse amor que se perdeu em muitos por aí mas que ainda pode ser aceso para iluminar a nossa vida.