A MENTIRA QUE SOU
E se hoje minto é porque necessito.Minto pelo equilíbrio das constelações, por calor e sede. Minto para me entregar aos que guardam os segredos dos dias e da terra. Minto com vontade, sem esforço e sem vergonha. Dou falso testemunho, retirando pássaros do ar. Então solto o animal preso na paisagem interna, rasgo as vestes do tempo e sou todo mandíbulas, suor, sal, fome e carne. Corro livre daquilo que sou para um lugar distante, de girassóis imaginados, estrelas perdidas, seres que comem pão e vomitam poesia. Ali sou amado por meus desassossegos, por aquilo que me falta, pelas palavras que não tenho.
Vejo somente através de meus olhos, então creio e quase não minto.