Você já sentiu que as coisas a nossa volta não fazem muito sentido?

Você já sentiu que as coisas a nossa volta não fazem muito sentido?

Tenho a sensação de que estou deslocado e que não pertenço a lugar nenhum. Gostaria que fosse somente mais uma reclamação de um sadboy, mas sinto que vai muito além disso. É uma questão existencial. A sociedade contaminada por um sistema excludente, que prevalece o lucro acima das vidas, o dinheiro acima dos sorrisos, o poder acima das emoções, nos cobra produtividade constantemente. Estar em silêncio contemplando o que nos cerca e o que pensamos parece ser um crime inafiançável, mas é também um privilégio de poucos.

Quando paro para prestar atenção em tudo que nos cerca, vejo como há apenas caos e aleatoriedades, embora a mente humana se esforce para conectar tudo e achar um sentido na própria existência. Em determinadas correntes filosóficas como o Hermetismo, por exemplo, tudo se conecta porque tudo faz parte do universo que por sua vez constitui a mente de um Todo existente, para alguns esse Todo é Deus.

Mas nem todos os dias estou com a sensibilidade de sentir o universo como o Todo. Há dias, como hoje trinta de junho de dois mil e vinte, que não há nada além de negação aos sentidos e a aparente lógica padrão aceitável. Minha consciência vaga pelas redes sociais onde existem abismos infindáveis de estupidez. Durante milhares de anos evoluímos e hoje nossa espécie tão sábia virou um cardápio em sites de relacionamento e grava vídeos totalmente sem sentido e sem graça por alguns trocados.

A cada dia que se passa a solidão está mais manifesta e a dor mais latente. É preciso se esforçar bastante para não demonstrar o desânimo em estar nessa realidade sem sentido às pessoas que nos amam e nos querem bem. Não se pode demonstrar esses tipos de pensamentos sem que venham com frases prontas de autoajuda, ou de coachs quânticos, ou com um lacinho amarelo. Exigem nossa felicidade o tempo todo. Não temos o direito à tristeza, não podemos chorar, não podemos nos entregar ao niilismo. Será que a positividade tóxica tem maior potencial destrutivo do que a tristeza aguda?

Essa é nossa realidade: uma pandemia matando milhares, contaminando milhões enquanto muitos fingem que não há nada de errado. Nossos principais governantes são adeptos de uma necropolítica e empurram com suas barrigas cheias de suco de laranja os problemas mais evidentes. Atacam a educação, os movimentos populares, a democracia, a liberdade e atacam até a saúde no seu momento mais delicado. Esses parasitas políticos são o reflexo de uma nação fracassada que por muitos anos se manteve oculta e que agora põe as garras de fora graças ao mau exemplo de nossos representantes. Talvez ainda haja saída, esses vermes não são a maioria no cenário nacional e estão perdendo força.

Embora haja uma luz no fim do túnel e tantos motivos para lutar e acreditar num novo hoje, e num melhor amanhã, sigo com esse sentimento de angústia. A esperança não preenche nem um por cento desse vazio. Acreditar que tudo ficará bem parece mais um sonho do que uma realidade. Não acredito que a humanidade irá entrar num consenso sobre o que é melhor para o planeta e para si própria. O Capitalismo é um sistema forte que além de destruir os recursos naturais, destrói também nossas mentes. O sistema capitalista invade nossas cabeças com promessas de felicidade. Ele usa nossas fraquezas e nossos vazios para vender produtos e somos manipulados pelo consumismo que nos fascina e que momentaneamente nos dá prazer. Assim corremos atrás do conhecimento não para um melhor entendimento do que nos cerca e está dentro de nós, mas para que possamos “vencer na vida” e ter poder aquisitivo. Nos tornamos seres artificiais, embora sejamos orgânicos, e o sistema não satisfeito agora se expande para fora do planeta.

Essas são questões mais do que suficientes para me deixar intrigado com a existência. Procuro respostas na ciência, no misticismo, mas tenho a sensação de que não absorvo nada além de ilusões. É como se a realidade fosse relativa e todos estivessem certos de alguma forma. E se no final todos estiverem certos dentro de suas visões de mundo e a realidade for bem mais complicada do que essa guerra de egos para saber quem está certo ou errado? E se no final das contas tudo realmente se conecta, mas a mente humana é programada para ver somente o caos? Talvez a elevação da consciência através da meditação ou psicotrópicos controlados ajude. Somos aquilo que construímos de nós mesmos, mas que determinismos nos cega?

Gabriel C. Machado