Depois de dez anos voltei ao Recanto

Corrijo-me. Há mais de dez anos retorno ao Recanto das Letras. Um site que me fez descobrir um pouco mais do que sou. Um lugar que foi minha morada. Meu abrigo. Conheci pessoas. Por conta disso, conheci minha atual esposa. Maravilhosa. Conexão Maringá-Paraná - Campina Grande -Paraíba. E a chance de dar certo? Deu mais do que certo. Porém, não vim falar disso. Há mais de dez anos retorno porque estou tendo síndrome de pânico. Estou tendo. É uma doença ardilosa que pode não se curar. "O tratamento durará dois anos", disse a psiquiatra. Aqui estou. Retornando à escrita. Retomando o que sou e me perdi. Esqueci-me em uma caixa perdida no fundo do porão. A última caixa. O "último número" de Augusto dos Anjos. Aqui estou. Não. Não estou. Aqui estou tentando me ser. É um desafio. Aos 33 anos, estou tentando buscar meu renascimento. Cansei de carregar a cruz pesada. Enterro-a com meu antigo não-ser. Agora quero ser, quero viver, quero o que existe entre o tudo e o nada. O Tudo e o Nada, inclusive. Nada pode passar despercebido. Tudo tem que ser notado, sentido. Um simples sair na rua é um problema. Conversar com pessoas é um problema. Lidar com problemas é um problema. Crise. Crises. Rivotril, remédios controlados. Existir é um problema. Não exclusivo meu, mas de todo mundo. A árvore rígida e grande desaba na tempestade. O arbusto resiliente e pequeno enverga, mas não quebra. Não sou forte. Achei que fosse. Resistente, rígido. Desabava a cada tempestade, fingindo que estava bem. Os anos cobram. Há mais de dez anos me destruindo aos poucos. Completamente quebrado, estou tentando juntar os cacos. Meu teto de vidro ficou em pedaços. Os cacos ferem as mãos. Crises. Ataques de pânico. "Acho que vou morrer - the end of the line". Rivotril. Nesse renascimento doloroso, vou formando vitrais do que sou, tentando fazer algo belo. A beleza das igrejas, o contato com o divino. Deus ou Deuses ou apenas Natureza. A paz de espírito tão desejada. É o que busco, é o que preciso. É o que está nas entrelinhas. No ato de escrever, ponho o que sou sem amarras. A palavras libertam. Tenho que parir não apenas novas ideias, mas sobretudo parir a mim mesmo. Renascer.

Pânico na Pandemia
Enviado por Pânico na Pandemia em 06/06/2021
Código do texto: T7272964
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