Pontes do desespero
À Milton Geovane
No presente
Alimento-me de momentos passados.
Tento reviver cada instante,
Reler cada gesto, tragar cada aroma,
Multiplicar cada sorriso, porem,
A obsolescência do tempo pune-me com um castigo:
A impossibilidade de reconstruir o que é findo.
- sopro as cinzas da existência e choro meus mortos.
Os quadros na galeria da memória jazem empoeirados.
As lembranças são rabiscos inúteis em um diário,
Sujo e rasgado, abandonado no porão do tempo.
- o calor da noite não cessa o frio d´alma.
Na penumbra do quarto emerge o vício.
Submerso em lamentos tardios,
Ruínas de um tempo aniquilado,
Contemplo a poesia de vilarejos hoje inabitados.
- não consigo edificar muros na areia movediça.
Caminho pelas estradas da loucura e tenho meus pés petrificados.
O que antes era gracejo, no presente, é insulto;
O que antes era aconchego, agora, lágrimas e solidão;
O que antes era sorriso, agora, um silêncio visceral.
- A face no espelho foi ferida por um estilete.
Somente o fim indicará meu inicio...