Concerto em só maior

O velho entoa uma canção.

Suas rugas expostas, pichações da existência,

São partituras de uma sinfonia inacabada.

Sua canção é amena.

Nela, o amor que lhe foi furtado,

Os desejos que cegaram pelo caminho,

São acordes doces a ouvidos surdos.

Está velho demais para chorar.

Somente canta, poeta do holocausto pessoal,

A malevolência de uma vida estéril.

Canta com a gratuidade de um deus.

Nada espera de quem ouve.

Sua voz é, tão somente,

O correndo onde fantasmas passeiam,

Oriundos de sua memória árida,

Sedentos por veneração.

A calçada é o seu palco.

São componentes da mesma estética.

Eles completam-se, amam-se,

Compreendem-se,

Psicanaliticamente em contemplação.

Seu espetáculo chega ao fim.

Entorpecido de tristeza e fadiga,

Ele caminha, acordeom entre os braços,

Rumo a casa, tão velha quanto ele,

Prestar contas a si mesmo sobre o seu dia.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 15/09/2008
Reeditado em 16/09/2008
Código do texto: T1179434
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