Visão da divisão
A um pedinte de Belo Horizonte
O espectro caminha mundo pela rua.
Entre seus dentes, pobres e sujos,
Restos de couve e infelicidade.
O encardimento de seus trapos,
Panos de chão doados por católicos burgueses,
Contrastam com a patética estética
Enraizada pela indústria do engano.
Sua carcaça incomoda os passantes.
Quando caminha, perrengue, espalha o odor
Que nasce de suas meias encardidas
Pelo suor da decepção.
Tem barbas longas e esperança curta.
Não teve filhos, não escreveu livros,
Não deixará de legado uma só façanha
Que mereça o louvor de uma meretriz.
Ele é somente nada.
Alguém que, por infelicidade,
Recebeu o bilhete de entrada neste mundo e,
Se pudesse, rasgaria-o ao receber.