Visão da divisão

A um pedinte de Belo Horizonte

O espectro caminha mundo pela rua.

Entre seus dentes, pobres e sujos,

Restos de couve e infelicidade.

O encardimento de seus trapos,

Panos de chão doados por católicos burgueses,

Contrastam com a patética estética

Enraizada pela indústria do engano.

Sua carcaça incomoda os passantes.

Quando caminha, perrengue, espalha o odor

Que nasce de suas meias encardidas

Pelo suor da decepção.

Tem barbas longas e esperança curta.

Não teve filhos, não escreveu livros,

Não deixará de legado uma só façanha

Que mereça o louvor de uma meretriz.

Ele é somente nada.

Alguém que, por infelicidade,

Recebeu o bilhete de entrada neste mundo e,

Se pudesse, rasgaria-o ao receber.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 07/10/2008
Código do texto: T1216385
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