Eterno luto
Gosto quando silencias,
Pois teu silêncio brada um poema
Que minha pena não consegue tracejar.
Gosto quando omites,
Opiniões ou pensamentos,
Pela simples razão de fazer-me um deus.
Gosto também de seu patético olhar reprovador,
Despótico analista de meus erros existenciais,
Que vê meu mundo além das paredes mofadas.
Gosto das dores que me presenteias quando,
Em noites de languidez induzida e reverenciada,
Lança por terra meus vários muros de Berlim.
Gosto de suas histórias sem-pé-nem-cabeça,
Memórias póstumas de gente viva e gritante,
Lançadas ao vento junto com a fumaça do cigarro.
Gosto do seu sim-negativo, do seu não-afirmativo;
De suas contradições emblemático-simplistas;
Gosto do nada que seu tudo me ofereces.
Gosto ainda, mais que tudo, quando foges,
E na palidez de meu quarto mudo,
Berço de nossas contradições e multiplicações,
Fico tateando seu perfume, suave como uma valsa,
Sentindo a poesia de meu eterno luto.