Estátua de fel
À Santo Antônio do Monte
Para escrever-lhe um poema,
Terra maldita que me pariu,
Eu uso fezes como tinta,
Picho muros com esperma,
Corto meu câncer com uma navalha.
Para escrever-lhe um poema,
Prostituta a qual não comunguei no gozo,
Eu aborto meus conceitos,
Rasgo fotos de meus ídolos,
Rogo uma prece de ódio interrupto.
Para escrever-lhe um poema,
Religiosa de seios expostos,
Eu abandono todos os livros,
Silêncio qualquer sinfonia,
Esvazio-me de sonhos.
Para escrever-lhe um poema,
Beata de anáguas menstruadas,
Eu contraio uma doença venérea,
Insulto um passante,
Vomito no altar da racionalidade.
Para escrever-lhe um poema,
Maldita estátua de fel,
Eu ressuscito o desespero antigo,
A insanidade que não julgava ter,
Homenageando-te com algumas linhas,
Famigerado conjunto de versos,
Paridas unicamente a seu louvor.