Estátua de fel

À Santo Antônio do Monte

Para escrever-lhe um poema,

Terra maldita que me pariu,

Eu uso fezes como tinta,

Picho muros com esperma,

Corto meu câncer com uma navalha.

Para escrever-lhe um poema,

Prostituta a qual não comunguei no gozo,

Eu aborto meus conceitos,

Rasgo fotos de meus ídolos,

Rogo uma prece de ódio interrupto.

Para escrever-lhe um poema,

Religiosa de seios expostos,

Eu abandono todos os livros,

Silêncio qualquer sinfonia,

Esvazio-me de sonhos.

Para escrever-lhe um poema,

Beata de anáguas menstruadas,

Eu contraio uma doença venérea,

Insulto um passante,

Vomito no altar da racionalidade.

Para escrever-lhe um poema,

Maldita estátua de fel,

Eu ressuscito o desespero antigo,

A insanidade que não julgava ter,

Homenageando-te com algumas linhas,

Famigerado conjunto de versos,

Paridas unicamente a seu louvor.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 24/02/2009
Reeditado em 24/02/2009
Código do texto: T1455309
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