Barganha

Oh meu bem, dê-me teu coração!

Agora, se não puderes, por piedade,

Deteriore em min a frustração,

Mesmo que com tua sádica maldade.

Não sou pura; fiz-me água barrenta do rio

Cujos peixes, sábios, abandonaram.

Busco em ti somente o desafio:

Recobrar afetos que os dias me roubaram.

Nunca colhi flores em teu louvor.

Pelo contrário, compadeço-me delas.

Quando lhe vejo chegando, com sabor,

Tranco, de imediato, todas as minhas janelas.

Quero de ti, unicamente, a recompensa

Para todas as dores de minh´alma aflita.

Depois de saciada, meu orgulho é que pensa;

E o seu carinho, em verdade, não mais cogita.

E assim, barganhando carências, sorrimos.

Atores fúteis de um teatro horrendo, bestial.

Sigo ao teu lado para, unidos, mentirmos;

Dejetos mal-cheirosos da utopia sentimental.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 15/06/2006
Código do texto: T176066
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