Barganha
Oh meu bem, dê-me teu coração!
Agora, se não puderes, por piedade,
Deteriore em min a frustração,
Mesmo que com tua sádica maldade.
Não sou pura; fiz-me água barrenta do rio
Cujos peixes, sábios, abandonaram.
Busco em ti somente o desafio:
Recobrar afetos que os dias me roubaram.
Nunca colhi flores em teu louvor.
Pelo contrário, compadeço-me delas.
Quando lhe vejo chegando, com sabor,
Tranco, de imediato, todas as minhas janelas.
Quero de ti, unicamente, a recompensa
Para todas as dores de minh´alma aflita.
Depois de saciada, meu orgulho é que pensa;
E o seu carinho, em verdade, não mais cogita.
E assim, barganhando carências, sorrimos.
Atores fúteis de um teatro horrendo, bestial.
Sigo ao teu lado para, unidos, mentirmos;
Dejetos mal-cheirosos da utopia sentimental.