Versos a um poeta maldito
No castelo onde me enclausuro,
Não há lírios nem petúnias que alegram;
Habitam morcegos e corujas
Que compadecem de minha solidão.
Nas paredes de meus quartos,
Taciturnos recantos poéticos,
Desenhos abstratos incitam a duvida.
- O silêncio grita nomes mortos.
Caminho, sem razão, de um a outro lado.
Leio um romance antigo, bebo um gole cancerígeno,
Atribuo minha derrota a fatores inexistentes e, mentindo,
Tento enganar-me de que tudo segue uma trajetória comum.
Gostaria de rezar, porem, não creio.
Perdi a ilusão dos insanos na eternidade
E, agora, fico debatendo minha carcaça
No mar soturno do não-querer-mais-nada.
Espero, sorrindo, que meus olhos percam o brilho
E que minha solidão paralise no emergir do tempo findo.
Teimo, num instante de volúpia, em crer
Que minha vida é coerente com minha escolha;
Acredito, piamente, que minha vida é um livro
Que um poeta maldito teimou em não editar em vida.