O ultimo gole

Lágrimas despencam no telhado.

Na varanda do casebre, sozinho,

Exorto em páginas os demônios que carrego.

O cigarro me faz companhia.

Em cima da mesa, não menos melancólica,

A garrafa vazia abandonada há vários anos

- Minha sobriedade é decadente.

Reminiscências relampejam em meu céu.

Lembro-me de vestidos azuis,

De sorrisos pós-choros,

De mãos dadas ao redor das praças,

De livros abertos sobre as estantes,

De músicas que embalavam beijos e, enfim,

Lembro-me de mundos que ficaram presos entre outros mundos.

Deito-me na rede da amargura e componho uma canção.

Sobre fagulhas insistentes, abraço as incertezas.

Dou um ultimo adeus à sua presença que ficou

E me sorri feito adolescente vivendo o primeiro amor.

- Tento me agarrar à fé que me faz falta.

Como uma criança sedenta de leite materno,

Vou de braços abertos rumo ao copo de cicuta e, com um sorriso,

Mergulho no abismo do não ser.

Minha respiração para e minha boca vai se fechando lentamente...

- Que a terra me seja leve!

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 24/06/2006
Código do texto: T181537
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