SUICÍDIO
Meu corpo arrasta minhas derrotas.
Ao longe, num campo distante,
Vejo minhas ilusões acenando
E dizendo-me, sorrindo, adeus!
A alegria não anda ao meu lado.
Houve um tempo, fugidio tempo,
Em que as canções eram suaves
E a dança preenchia meu espírito.
Hoje, porem, o piano silenciou
E minhas pernas não conseguem valsar.
Eu perdi a fé que movia meus passos
E meu coração tornou-se uma caixa vazia.
Quanto amor contraí e, leviano,
Deixei que o mar o levasse consigo?
Quantas belas noites de luar,
Quantos momentos de volúpia carnal,
Quantos dizeres abnegados por covardia,
Quantos sonhos não-construídos,
Quantos... Quantas... Quantos...?
Sou agora o reflexo de meus erros.
Teimo, num último sinal de deleite,
Escrever versos inúteis para nenhuma posteridade.
E se faço, envolto em tristes nostalgias,
É para moquear o que ainda resta de vivo em mim.
Não busco mais a vida; escrevo suicidando-me.