Caramujo

É preciso sufocar

Esta vontade de viver,

De se expandir, de se curtir,

Prá sobreviver

Dentro do que lhe foi permitido ter,

E continuar

A tocar prá frente

Como quem deve chegar

Aonde não se sabe...

É preciso matar

O desejo de sonhar

Prá não ter que comparar

O que se pode com o que se quer.

É preciso deixar

O que se quer prá amanhã

Prá não se ver perplexo

Ante o hoje tão sem nexo...

Prá não deixar que o reflexo se faça

Onde resta um pouco de você.

É preciso proteger o ventre,

Criar grossas cascas,

Virar caramujo.

Manter o núcleo, limpo e vulnerável,

Por sob o casco resistente e sujo.

É dentro do meu casco em caracol que eu me permito

Dar mil voltas em torno de mim mesmo,

Descobrir os caminhos do infinito

Sem ser obrigado, em cada volta,

A sufocar um grito...

Ah! Eu quero olhar a luz na boca desse túnel

Que é parte do meu próprio eu,

E buscar de mansinho a saída...

E achar a maneira

E o momento de ir de encontro à barreira

E transpor a fronteira para ver

A luz que vem de fora,

Marcando um doce amanhecer,

Ser o ser que sabe quando é chegada a hora

De se lançar sem medo

No momento do agora,

E que, ao chegar do outro lado,

Já livre,

Chora

Ao sentir como é lindo nascer!

Luiz Roberto Bodstein
Enviado por Luiz Roberto Bodstein em 28/06/2006
Reeditado em 13/02/2012
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