Aclamação aos derrotados
Tenho os olhos cheios de lágrimas
E as mãos vazias de realizações.
Sou poeta dos frustrados, dos vencidos,
E minha poesia emana imensamente
A dor de não ter sido coisa alguma.
Saio capenga pelas ruas e,
Sob olhares inquisidores,
Diminuo-me a um grão de trigo partido.
Sou a manifestação plena do fracasso eminente.
Amo os perdedores; eles sim são honrados!
Em seus cárceres subjetivos, alheios ao mundo,
Refugiam-se em lembranças fatídicas,
Meras quimeras de um mundo perdido no tempo,
E transparecem uma ética nicomânquica
Alheia aos vencedores.
Em suas almas calejadas brotam a sabedoria.
Em seus rostos magros, minguados pelas derrotas,
O saber se materializa de forma singular.
Os perdedores são os sábios incompreendidos!
E eu, eterno derrotado nas mesas da existência,
Vivo a farejar a sabedoria de meus ídolos perdedores.
E eu, expulso dos salões em razão de minha pouca grife,
Vivo a profanar salmos desses tristes sabedores.
E eu, subjugado pelas natas de meu tempo rancoroso,
Vivo a seguir os passos daqueles que nunca andaram.