Aclamação aos derrotados

Tenho os olhos cheios de lágrimas

E as mãos vazias de realizações.

Sou poeta dos frustrados, dos vencidos,

E minha poesia emana imensamente

A dor de não ter sido coisa alguma.

Saio capenga pelas ruas e,

Sob olhares inquisidores,

Diminuo-me a um grão de trigo partido.

Sou a manifestação plena do fracasso eminente.

Amo os perdedores; eles sim são honrados!

Em seus cárceres subjetivos, alheios ao mundo,

Refugiam-se em lembranças fatídicas,

Meras quimeras de um mundo perdido no tempo,

E transparecem uma ética nicomânquica

Alheia aos vencedores.

Em suas almas calejadas brotam a sabedoria.

Em seus rostos magros, minguados pelas derrotas,

O saber se materializa de forma singular.

Os perdedores são os sábios incompreendidos!

E eu, eterno derrotado nas mesas da existência,

Vivo a farejar a sabedoria de meus ídolos perdedores.

E eu, expulso dos salões em razão de minha pouca grife,

Vivo a profanar salmos desses tristes sabedores.

E eu, subjugado pelas natas de meu tempo rancoroso,

Vivo a seguir os passos daqueles que nunca andaram.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 04/07/2006
Código do texto: T187676
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