Réquiem para um incrédulo
Chegaste há um tempo em que não se faz mais amor,
Pois o corpo só almeja o gozo mecânico da aceleração de movimentos.
A alma está irremediavelmente vencida pelo desgosto,
Pela incredulidade, e já não recita poema algum
Nem se compadece com choro de criança indefesa.
As horas passam e, sem motivação, embriaga-se;
Atola-se em enciclopédias que, cheias de sabedoria muda,
Só lhe imprimem um ritmo melancólico de assassinar o tempo.
Nenhuma palavra toca sua alma, só o silêncio lhe consola;
Entrega-se simplesmente a lembranças fatídicas e rostos sem brilho.
As flores tornaram-se plantas e nelas não existe encanto.
Os corpos são massas compostas de ossos, artérias e ignorância;
A lua está encoberta e as luzes dos postes se apagaram.
Você espera simplesmente a dissolução de tudo que existe.
Seu coração apodreceu, seu olhar é absorto,
Você não tem convicção no minuto seguinte
E sabe que o dia não nascerá pela manhã.
Morreste e em sua lápide não existem frases imemoriais;
Somente o silencio da descrença absoluta e a certeza de que,
No máximo, conseguira ser um espectro de si mesmo.