Cantar

Cantar de beira de rio;
água que bate na pedra,
pedra que não dá resposta.

Noite que vem por acaso,
trazendo nos lábios negros
o sonho de que se gosta.

Pensamento do caminho
pensando o rosto da flor
que pode vir,  ms não vem.

Passam luas — muito longe,
estrelas — muito impossíveis,
nuvens sem nada, também.

Cantar de beira de rio;
o mundo coube nos olhos,
todo cheio, mas vazio.

A água subiu pelo campo,
mas o campo era tão triste...
Ai!
Cantar de beira de rio.

Cecília Meireles

 
Cecília Meireles
Enviado por RG em 29/05/2014
Reeditado em 29/05/2014
Código do texto: T4824400
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