A Miséria
Na luz de teus olhos eu queria acender
A chama de minha esperança...
E em teus braços
Eu queria salvar-me da vida.
Tão cruel castigo me coube;
Tão triste sina caiu sobre mim!
O calor que me aquece não é o da bondade,
Tampouco o da caridade.
O fogo que me queima não é o do inferno.
O que arde em mim é a saudade.
O vento gelado da desesperança,
A névoa que esvazia meus olhos,
É o frio da tua ausência,
É o gritante esquecimento.
E quem ganha teus beijos?
Quem ganha teu sorriso?
Quem te traz para junto de si
E sente o toque mágico do teu seio
E o teu coração batendo mais forte?
Quem te chama “minha mulher”?
O pesado horizonte olha-me sombrio;
Imóvel brisa parece me dizer algo.
Mas minha resposta é o silêncio.
Atrás de mim não restou sequer o passado
E o futuro é uma miragem
Intocável de tristeza e dor.
Um confuso vapor,
Um gosto amargo de realidade
Dá ao ambiente as cores
De tudo perdido.
O coração, doente, tropeça no peito.
Mas quem refletiu o brilho do teu olhar
E, na noite que o orvalho caía
Como diamantes sobre a rosa mais vermelha,
Colheu tua respiração mais profunda,
Embriagou-se de teu hálito doce?
Por que os anjos da paixão
Não sussurram a quem ama
Que tantos outros viverão nas trevas?
Na ofuscante luz do sol,
Na chuva refrescante,
Tu te aproximas de mim.
Será que, na violenta tempestade
Um relâmpago te faz recordar-me?
Se não são meus os braços que te recebem;
Não são minhas as palavras
Que te acalmam!
Não é o meu amor
Que te leva ao céu, ao delírio!
E, por que, então, quis eu
Somente os teus braços?
Os teus beijos?
O teu amor?
Somente o teu amor!
Apaixonar-me...
Foi tingir de cores vivas
O cinzento arco-íris de minha existência.
Foi tingir de negro as águas claras
Do riacho de minha vida...
Pensei que enlouquecia,
Mas eram apenas minhas lágrimas
Que, caindo ao chão,
Formavam um coração.