Sabedoria Mexicana
"No hay glória en la derrota."
Morrer: eis o fim, eis a meta -
Já dizia o profeta Musset.
Lutar - bem ou mal - é fazer algo inútil
Enquanto escorrem as areias
De uma invisível ampulheta
De um invisível, impassível e desconhecido observador.
O interessante jogo de palavras
" Jogamos como nunca,
Perdemos como sempre"
Deveria ser ensinado nas escolas,
Vomitado à larga nas igrejas,
Servindo para enxotar de vez
Os presepeiros psicólogos!
Não existe glória no teatro humano
Porque este é enlameado
Por grotescos atores!
Do alto de minha inglória sabedoria
Ou - se preferirem
Das profundezas de minha infame miséria,
Eu posso dizer:
Não existe glória, não existe êxito
No rastejar dos homens!
Eu a procurei e não encontrei;
Eu muito observei e concluí:
O que existe é o Império da Negação,
Onde a tola humanidade
Classifica sem critérios - seguindo seu gosto duvidoso -
O que é digno e o que é indigno.
Seu conceito glorioso elegeu um deus crucificado,
Mas a morte é vista como uma infâmia!
Pois se não há glória na morte,
No martírio, no sofrimento irremediável,
Também não há glória no viver fácil,
Na busca insana pelo prazer.
Não há glória no gozo de vazias sensações,
No jactar-se de estúpida liberdade.
Se não há glória na pobreza,
No apertado cálculo de parcas moedas,
Igualmente não existe glória na riqueza,
Que faz de quem a tem
Um imbecil em escala monumental.
E se não é glorioso ser um idiota,
Igual condição cabe aos acadêmicos
E falastrões em geral,
Visto que este planeta é redondo
Devido à ignorância desses sabichões.
A tristeza e seus donos não têm glória
Como não tem a multidão de bobos-alegres.
Quem chora sente alguma dor - o que é infame -
E quem de tudo ri e acha graça
É tão mentecapto que já perdeu os sentidos.
Não há glória na solidão.
Mas por que exultar-se por viver
Num rebanho de antas,
Por estar integrado a um monte de estrume?
Não há glória na paixão?
Não é glorioso amar a quem não nos ama?
Não é glorioso recolher-se na desilusão
Para diferenciar e adorar nosso amor desprezado?
Pois também não há glória
Em viver na devassidão como um animal no cio.
Não há glória em repetir conceitos esdrúxulos
Como um relógio que repete as mesmas horas
Dia após dia,
Para ser igual a todo mundo,
Para não ser rotulado "doido".
Não existe glória para o homem.
Não há glória neste mundo.
Não há glória no nascimento
Nem na morte.
Porque se nasce para a infâmia
E se morre como um verme.
Não há glória na crucificação
Tampouco na ressurreição.
Porque o crucificado é um pobre visionário
E ressuscitar é regressar para cometer os mesmos erros
Nesta terra desgraçada,
Nenhuma derrota é a última
E aquilo a que os lunáticos chamam de vitória
Nada mais é que um pequeno intervalo
Que o destino se dá para gargalhar
De nossa macarrônica existência.
Nota: a epígrafe deste texto é uma frase citada pelo jornalista Juarez Soares no programa Bola na Rede (Rede TV!) exibido no dia 23/06/2002, atribuída a um octogenário cronista esportivo mexicano o qual não foi dito seu nome. O "interessante jogo de palavras" foi citado pelo jornalista Juca Kfouri no mesmo programa, reproduzindo a manchete de uma folha mexicana sobre a qual não emitiu maiores informações.