O Fim

Não subirei mais a velha escada de mármore

Apenas descerei uma última vez

Para o nada, para a Terra do Nunca Mais

E não habitarei mais meu quarto

Quarto escuro, úmido e sombrio

Não serei mais uma incógnita

Ou vítima das maledicências

Não especularão mais sobre eu ser nobre ou vagabundo

E os telefonemas tão esperados não me acordarão mais

Pela manhã só haverá o silêncio conciliador

Pois dentro de mim não haverá mais solidão

Não chorarei mais, nunca mais...

E a minha dor não me fará mais uma vítima do desespero

Nem tão pouco prisioneiro da agonia será meu coração

Meus braços não sentirão mais o calor

Calor de corpos que tão pouco abracei

E não serei mais nada, nada mesmo

Se quiserem serei lembranças, se quiserem

Nesse epitáfio em papel eu choro

Pois fui integralmente sentimento

E sempre meu coração bateu apaixonado

As lágrimas, minhas companheiras

Serão agora como gotas de chuva

E os meus erros o húmus para essa terra

Os amigos continuarão suas vidas

E não deixarei lições a serem seguidas

Minh ’alma humilde foi sempre aprendiz

Meu amor não sofrerá mais por mim

E meus irmãos estarão serenos e conformados

Assim o tempo passará em rios de continuidade

E as rotinas corriqueiras estarão eternizadas

Para mim a vida nunca existiu, para mim...

A liberdade não será mais um sonho meu

E nem o amor será a coisa que mais dei importância

O sofrimento dos animais não me afetará mais

E nem os açoites cruéis dos verdugos sobre a carne humana

Assim estarei em cinzas sobre o alto de uma montanha

E como sempre, o mais importante é quem fica...

Sejam felizes...

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 12/02/2020
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