Mentira
Cansei de fingir para mim mesmo
Nesse mundo de inverdades
Enganar-me assim sem piedade
Achar que nada podia trair-me
Que nunca haveria ilusão
A cegar-me a visão
A transformar tudo em miragem
Todas as paisagens
Sangradas de saudade
Onde sonhei viver de ventura
E respirar paixão somente
Cansei de mentir para mim mesmo
Que haveria fuga desse ermo
Que me aplacaria a sede
Nessas águas sujas
Mataria minha fome
De mastigar minha carne
Triturar meus ossos
Sorver meu sangue
Que cessaria essa angústia
Que com força me oprimi
Contra a qual não posso lutar
Cansado de fugir de mim mesmo
Queria encontrar logo a saída
Disparar pela estação
Com meu bilhete só de ida
Voar na hora da partida
Em um trem que me leve
Para o cafundó das lonjuras
Escapar das despedidas
Para não chorar de loucura
Nos braços de quem traía
E nunca mais viver de mentira.