O rio

Chovia há dez dias

O rio estava cheio

Descia caudaloso pela encosta

Não se podia atravessá-lo

Nem corda

Nem balsa

Nem barco

Era preciso cruzar o rio

Mas enquanto durasse a chuva

Que caía há dez dias

Fazê-lo seria impossível

Nem céu

Nem sol

Ou arco-íris

Na beirada do rio

Os barqueiros aguardavam

Que a chuva se fosse

Era preciso transpor as águas

Que desciam o desfiladeiro

Ainda mais grossas

O rio era indomável

Na margem oposta

Camponeses aflitos

Esperavam sem esperança

O fim da tempestade

Ilhados sem abrigo

Cansados da chuva

Imponentes ante a força do rio

Era preciso esperar

Que o céu se abrisse

Que a chuva cessasse

Que o rio baixasse

Que levasse para um canto remoto a torrente

E trouxesse de volta as águas calmas

Das travessias diárias

Era preciso esperar

Que a chuva capitulasse

Que o céu parisse o alento do sol

Que o rio cedesse

E aproximasse as margens

Sem essas águas ruidosas

Que não têm piedade de nós.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 07/02/2009
Código do texto: T1426316