Pintar pássaro, primavera no muro gris
Quero primavera em dia de névoa
Um pouco de amarelo
E algum vermelho
Muito verde e pitadas de céu azul
Pássaros e idéias novas
Revoadas sobre os prédios
Utopia de novo acesa
Uma pira de beleza no centro do País
Quero uma brecha no tempo
Pular as tempestades todas
As nuvens gris
Escrever coisas tolas e sem propósito
Sem me preocupar com o contracheque
E a violência
Desmandos e falcatruas
As mamatas do poder e as dores de todo dia
Quero o impossível:
Esperança de criança e mais filhos
Amor e outras tolices
Esses lances de crença e mistério
De quem nos ignora e atura
Crer em Deus, mesmo que desdenhe de tantas preces
E escolha raros para seus milagres
Estrelas no seu baú de felicidades
Esperar sua volta um dia com sua legião de anjos
Embora saiba que Ele vai paro céu
E fica séculos sem dar as caras
Nos pedindo calma, paz e fé infinda
Quero ainda ser feliz. É uma meta
Pincelar alegria nos muros
Poesia, um pouco de amarelo
E algum vermelho
Muito verde e pitadas de céu azul
Na cidade
E depois ficar esperando as tempestades
Debaixo de uma árvore
Cometer imprudências
Escrever tolices pra ninguém
Dar bobeira e acreditar ainda na política
Como arma de transformação
E no transcendental, em anjos e santos
Quero continuar a caminhada
Mas sei que tudo pode ser só conversa fiada
Pura acomodação
E que Deus nem mais voltará
Todas as esperanças estão açodadas
E as transformações possíveis impedidas
Que tudo são sonhos em gaiolas transparentes
Televisão, ilusão, impossibilidades.
De qualquer forma,
Quero esperar o messias junto com os fiéis
Ir na missa e fazer promessas
Pelos séculos dos séculos
Até que nos chegue o apocalipse
E feche o último capítulo, a página finda
Amém