Tecnologia leve, práticas de bondade, é tudo o que o planeta precisa
Sou só pele, osso e resistência.
Trago no corpo
lembranças da inquisição,
vergões no lombo,
no ombro marcas de torturas,
duras lições
de sórdidas ditaduras.
Balas e feridas mal curadas
de duas guerras imundas,
oriundas de divisões coloniais.
Sobrevivente do escuro,
viajo num novo tempo,
onde a ciência predomina
e a igreja, em outro empenho,
expia o passado,
pedindo perdão pelos pecados
dantes praticados,
enquanto ricos governos,
ditos democráticos,
dão a nova ordem mundial,
dividindo o planeta
em primeiro, segundo, terceiro
e quarto mundos,
criando novas diásporas,
chagas que se alastram
Áfricasiamérica e oriente.
O novo mundo
e suas misérias
É a nova e moderna idade média.
Caminho no presente
e a fuligem me exaspera.
Vejo hordas aglomeradas
nas encostas, baixadas, mangues
e áreas de risco.
Fortes imagens babilônicas:
Todo hora uma intriga, um crime.
Miséria e esbórnia.
Guerras não declaradas.
Guerras fratricidas.
Guerras religiosas...
Corrupção é o novo mal
que corrói e joga a ética na merda
no lixo da história
e nações à margem
da tecnológica idade.
Vejo claro e evidente,
passado e presente se ligam
em virtuais pontes despóticas
Pela ótica dos desmandos
séculos que se anelam
e subjugam a esperança.
Mais que templos, prédios, pontes...
O mundo clama horizontes,
novas idéias e ideais,
terra, plantio, comida, felicidade,
tecnologia leve, com humanidade...
Íntegros planos e práticas de bondade
É só o que quero agora
Não é pouco, mas é tudo o que planeta precisa.
...
Da série Nostalgia Explícita, escrita na década de 70.