POETA DE RUA
Um poeta culto e nordestino, na praça de Copacabana
mostrava o seu verso, contrafeito e reverso
para a turba ignata, que pouca atenção lhe dava.
Mostrava o poeta na praça, o seu estupor.
É a verdade que o poeta verseja, desejando
acercar-se das coisas, e com todo o seu ardor
dimensiona-las no lírico.
Mas quem quererá a verdade?
Mesmo assim, ele não quer pouco.
Só a gloria, almeja. Os cabelos vão voando
ao vento leste, enquanto na praça, ele tenta
vender o amor por seu tema.
Amor e vida, trançadas nas rimas.
Morte e vida Severina, visceral cabra-da-peste.
Mas o povo passava apressado
querendo alcançar no horário, o folhetim da televisão
correndo contra um tempo que não tem.
Passava e olhava, e olhando, alguns lhe falavam
cheios de comiseração: “Sai das nuvens, amigo poeta”
e não lhe davam vintém. O poeta não percebia
não se via ali vivendo o anti-herói de um poema patético.
Passa, rente, o coletivo. Passa o cão e o transeunte.
O jardineiro acolhe a flor tísica
e o poeta heróico ainda tenta na praça
vender poesia para o povo, em secos versos
enquanto o diverso o maltrata.