A CIDADE E AS MONTANHAS
As montanhas
são momentos de graça,
beleza cinzelada na pedra.
As montanhas são eternidade.
A cidade não almeja o eterno.
É luz e fugacidade.
As montanhas abraçam
a cidade, suaves,
as montanhas de rocha bruta.
Infensa, a atlântica mata.
As formas sinuosas da mulher,
são iguais as formas da cidade.
A cidade é perdida,
como existem mulheres perdidas,
traineiras sem rota, putas
nas esquinas da cidade.
E há homens perdidos,
vagando pelas ruas.
As montanhas são maciças,
vigas mestras de sustentação
de um céu platinado
e, por vezes, de um céu de anil.
E as águas? Porque que vertem-se as águas?
Ah! as águas vertem-se porque correm prantos.
Contínuas, escorrem de fendas/feridas nas pedras.
Há o sorriso dos puros
que habitam a cidade.
Também há as águas latentes.
Cidade do sol e das enchentes
cidade do aguaceiro
do mar que observa as montanhas
enevoadas em Março
emoldurando a cidade do Rio de Janeiro.