Anjo Errante

Se quiserdes saber quem sou

Dir-te-ei: Sou o anjo errante

Que nos vales da vida, vagueia

Arrastando sua mesma sombra

Ao sabor das sombras alheias.

Com as mesmas asas dobradas

Em cruz sobre o peito arfante.

Sigo de noite, algo insone

Incapaz de prover milagre.

Ido de pouso em pouso

Anjo delirante e exposto

À luz de uma lua sombria;

Vago tonto

E eternamente isolado.

Nas hordas celestiais

O meu nome não se fala

Este já defenestrado.

Imposto me foi não ter amor

Que seja, condenado a viver sozinho

E nem sequer me permitem

Encontrar para o corpo, o repouso.

O Deus, que me sentencia

A estar assim exilado

Estando, por certo, ocupado

Nas lidas lá com o Diabo

Quem sabe, minha amiga

Se eu não aproveito

E te convido a desfrutares comigo

Deste encontro inusitado?

Se quiserdes cear

Sentemo-nos no prado verde;

Ainda tenho um bom naco de pão

Duas maçãs, tão cheirosas

Uma botija de vinho

E, de ancestral, esta sede.

RicardoSReis
Enviado por RicardoSReis em 15/11/2007
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