Anjo Errante
Se quiserdes saber quem sou
Dir-te-ei: Sou o anjo errante
Que nos vales da vida, vagueia
Arrastando sua mesma sombra
Ao sabor das sombras alheias.
Com as mesmas asas dobradas
Em cruz sobre o peito arfante.
Sigo de noite, algo insone
Incapaz de prover milagre.
Ido de pouso em pouso
Anjo delirante e exposto
À luz de uma lua sombria;
Vago tonto
E eternamente isolado.
Nas hordas celestiais
O meu nome não se fala
Este já defenestrado.
Imposto me foi não ter amor
Que seja, condenado a viver sozinho
E nem sequer me permitem
Encontrar para o corpo, o repouso.
O Deus, que me sentencia
A estar assim exilado
Estando, por certo, ocupado
Nas lidas lá com o Diabo
Quem sabe, minha amiga
Se eu não aproveito
E te convido a desfrutares comigo
Deste encontro inusitado?
Se quiserdes cear
Sentemo-nos no prado verde;
Ainda tenho um bom naco de pão
Duas maçãs, tão cheirosas
Uma botija de vinho
E, de ancestral, esta sede.